quinta-feira, 21 de março de 2013

"A morte é uma piada"



Um senador está andando tranqüilamente quando é atropelado e morre.
A alma dele chega ao Paraíso e dá de cara com São Pedro na entrada.
-'Bem-vindo ao Paraíso!'; diz São Pedro
-'Antes que você entre, há um probleminha.
Raramente vemos parlamentares por aqui, sabe, então não
sabemos bem o que  fazer com você.
 -'Não vejo problema, é só me deixar entrar', diz o antigo  senador.
 -'Eu bem que gostaria, mas tenho ordens superiores.
Vamos fazer o seguinte:
Você passa um dia no Inferno e um dia no Paraíso. Aí, pode
escolher onde quer passar a eternidade.
-'Não precisa, já resolvi. Quero ficar no Paraíso diz o senador.
 -'Desculpe, mas temos as nossas regras. '
Assim, São Pedro o acompanha até o elevador e ele desce,
desce, desce até o  Inferno.
A porta se abre e ele se vê no meio de um lindo campo de golfe.
Ao fundo o clube onde estão todos os seus amigos e outros
políticos com os  quais havia trabalhado.
Todos muito felizes em traje social.
Ele é cumprimentado, abraçado e eles começam a falar sobre
os bons tempos em  que ficaram ricos às custas do povo.
Jogam uma partida descontraída e depois comem lagosta e caviar.
Quem também está presente é o diabo, um cara muito amigável
que passa o tempo todo dançando e contando piadas.
Eles se divertem tanto que, antes que ele perceba, já é hora
de ir embora.
Todos se despedem dele com abraços e acenam enquanto o elevador sobe.
Ele sobe, sobe, sobe e porta se abre outra vez. São Pedro
está esperando por  ele.
Agora é a vez de visitar o Paraíso.
Ele passa 24 horas junto a um grupo de almas contentes que
andam de nuvem em  nuvem, tocando harpas e cantando.
Tudo vai muito bem e, antes que ele perceba, o dia se acaba
e São Pedro retorna.
-' E aí ? Você passou um dia no Inferno e um dia no Paraíso.
Agora escolha a sua casa eterna.
' Ele pensa um minuto e responde:
-'Olha, eu nunca pensei ... O Paraíso é muito bom, mas eu
acho que vou ficar  melhor no Inferno.'
Então São Pedro o leva de volta ao elevador e ele desce,
desce, desce até o  Inferno.
A porta abre e ele se vê no meio de um enorme terreno baldio
cheio de lixo.
Ele vê todos os amigos com as roupas rasgadas e sujas
catando o entulho e colocando em sacos pretos.
O diabo vai ao seu encontro e passa o braço pelo ombro do senador.
 -' Não estou entendendo', - gagueja o senador - 'Ontem mesmo
eu estive aqui  e havia um campo de golfe, um clube, lagosta, caviar,
e nós dançamos e nos divertimos o tempo todo. Agora só vejo esse fim de mundo cheio de lixo e meus amigos arrasados!!!'
 O diabo olha pra ele, sorri ironicamente e diz:
 -'Ontem estávamos em campanha.
Agora , já conseguimos o seu voto...'

Morrer é ridículo. Você combinou de jantar com a namorada, está em pleno tratamento dentário, tem planos pra semana que vem, precisa autenticar um documento em cartório, colocar gasolina no carro e no meio da tarde morre.
Como assim?
E os e-mails que você ainda não abriu, o livro que ficou pela metade, o telefonema que você prometeu dar à tardinha para um cliente?
Não sei de onde tiraram esta ideia: morrer. A troco?
Você passou mais de dez anos da sua vida dentro de um colégio estudando fórmulas químicas que não serviriam pra nada, mas se manteve lá, fez as provas, foi em frente.
Praticou muita educação física, quase perdeu o fôlego, mas não desistiu.Passou madrugadas sem dormir para estudar pro vestibular mesmo sem ter certeza do que gostaria de fazer da vida, cheio de dúvidas quanto à profissão escolhida, mas era hora de decidir, então decidiu, e mais uma vez foi em frente.
De uma hora pra outra, tudo isso termina numa colisão na freeway, numa artéria entupida, num disparo feito por um delinquente que gostou do seu tênis.
Qual é? Morrer é um chiste.
Obriga você a sair no melhor da festa sem se despedir de ninguém, sem ter dançado com a garota mais linda, sem ter tido tempo de ouvir outra vez sua música preferida.
Você deixou em casa suas camisas penduradas nos cabides, sua toalha úmida no varal, e penduradas também algumas contas.
Os outros vão ser obrigados a arrumar suas tralhas, a mexer nas suas gavetas, a apagar as pistas que você deixou durante uma vida inteira.
Logo você, que sempre dizia: das minhas coisas cuido eu.
Que pegadinha macabra: você sai sem tomar café e talvez não almoce, caminha por uma rua e talvez não chegue na próxima esquina, começa a falar e talvez não conclua o que pretende dizer.
Não faz exames médicos, fuma dois maços por dia, bebe de tudo, curte costelas gordas e mulheres magras e morre num sábado de manhã.
Se faz check-up regulares e não tem vícios, morre do mesmo jeito.
Isso é para ser levado a sério?
Tendo mais de cem anos de idade, vá lá, o sono eterno pode ser bem-vindo.
Já não há mesmo muito a fazer, o corpo não companha a mente, e a mente também já rateia, sem falar que há quase nada guardado nas gavetas.
Ok, hora de descansar em paz.
Mas antes de viver tudo, antes de viver até a rapa?
Não se faz. Morrer cedo é uma transgressão, desfaz a ordem natural das coisas.
Morrer é um exagero. E, como se sabe, o exagero é a matéria-prima das piadas.
Só que esta não tem graça. —

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